Home Giro no Mundo Pushkar: guia da cidade sagrada do Rajastão, na Índia

Pushkar: guia da cidade sagrada do Rajastão, na Índia

por Gabriela Mendes

Saiba o que fazer em Pushkar, onde se hospedar, onde comer, quando ir, quantos dias ficar e outras dicas importantes.

Nossa ida à Pushkar foi motivada por um desejo de pausa. Passamos vários dias viajando pelo Rajastão, encantadas com todos os castelos, repletos de histórias milenares de marajás, guerras e invasões, em meio à toda intensidade que as cidades indianas podem oferecer. Porém, depois desse boom de informações, sentimos que precisávamos descansar um pouco. 

Viajantes estrangeiros nos contavam que Pushkar era o destino hippie do Rajastão, onde muitos vão ao encontro de gurus espirituais ou provam o bhang lassi, feito de c@nnabis. Para os indianos, a cidade representa um dos lugares mais sagrados do país, onde fica um dos únicos templos de Brahma. É também onde acontece a famosa Feira de Pushkar, um mercado de camelos e festa cultural. 

Chegamos à Pushkar de trem, depois de alguns dias em Udaipur e antes de ir para Jaipur. Não é que a cidade seja exatamente uma calmaria, principalmente se tratando de um lugar no norte da Índia. Por ser uma das principais rotas de peregrinação hindu, o vai e vem de pessoas na rua é grande. Mas, a cidade é pequena, tem restaurantes gostosos e é possível fazer tudo a pé, sem precisar ficar preso no trânsito caótico. O que a gente mais gostava de fazer era ficar de boas em um dos ghaats*, sentadas à beira do lago, observando as cerimônias, ao lado de vaquinhas e macacos. O mercado da cidade também é tentador, com a maior variedade de produtos e melhor preço que encontramos na nossa viagem de dois meses pela Índia.
* Os ghaats são degraus que levam a um rio ou lago, usados para cerimônias religiosas.

Entenda Pushkar

Pushkar está localizada em um vale que à 14km da cidade de Ajmer, em meio às montanhas Aravalli. 

Em sânscrito, Pushkar significa flor de lótus azul e os hindus acreditam que os deuses deixaram cair uma flor de lótus onde a cidade nasceu, para que o deus Brahma fizesse uma cerimônia do fogo sagrado, chamada de yagna. Brahma tinha duas esposas, Gayatri e Savitri, porém chamou só uma delas, Gayatri, para participar da cerimônia. Savitri ficou com raiva e condenou Brahma a nunca sair de Pushkar. Por conta disso, o templo de Brahma em Pushkar é um dos únicos de toda a Índia. Reza a lenda que a criação do Lago de Pushkar, foi resultado das lágrimas de Shiva, quando sua esposa, Sati, faleceu. Ele chorou tanto que formou o sagrado lago.

A cidade é uma das mais antigas da Índia e há registros de ocupação que datam mais de dois mil anos antes de Cristo. Porém, sua fundação foi no Império Mongol, no século X. Com a invasão, muitos dos templos foram destruídos e sua reconstrução se deu apenas no século XVII, com a queda do Império.

Pushkar é uma das mais importantes cidades do hinduísmo e recebe, todos os anos, milhares de fiéis. Como outras cidades sagradas do país, como Rishikesh e Varanasi, por aqui também existem regras muito restritas em relação à proibição de bebidas alcoólicas, carnes e ovos.

Vimos inclusive um dos funcionários do hostel confiscando a bebida que um viajante levava consigo.

O que fazer em Pushkar

Lago de Pushkar e seus ghaats

O Lago de Pushkar é um dos lugares mais sagrados da Índia e, para o hinduísmo, suas águas têm poder de purificação espiritual e libertação do karma. Por isso, os peregrinos vêm com a família toda para se banhar em suas águas, fazer oferendas e participar de cerimônias. Para nós, turistas, é muito interessante observar a dinâmica e as cenas que acontecem nesses ghaats, com um vai e vem de homens sagrados, fiéis, vendedores, sadhus (monges hindus), vacas, macacos e pombos.

Há mais de 50 ghaats e 400 templos em volta do lago. Nós acabamos indo mais de uma vez no Gau Ghaat, que é o templo das vacas. Ele era relativamente tranquilo, tinha várias vaquinhas e um visual bem bonito pro lago. 

Ali do lado fica o mais famoso, o Brahma Ghaat, um dos lugares onde acontece a cerimônia do pôr do sol, o aarti, todos os dias.

Outros ghaats: Varaha Ghat, Badri Ghat, Gangaur Ghat, Saptarishi Ghat, and Yajna Ghat. O legal é passear ao redor do lago e observar a particularidade de cada ghaat.

💡 Lembre-se: você está em um lugar sagrado. Tire os sapatos na entrada, use roupas cobertas, peça permissão para tirar fotos, seja discreto e respeitoso. A dica é sempre ter um lenço na bolsa, para quando precisar se cobrir e uma meia guerreira. Eu explico: o chão dos ghaats é uma mistura de cocô de vaca, pombo e macaco, mas é obrigatório ficar sem sapato. Por isso, a gente selecionou uma meia guerreira, que aguentaria aquela sujeirada toda, pra não ter que sujar mais de uma.

💡 É possível participar da Cerimônia do Lago mesmo não sendo hindu, acompanhado de um brâhmane (membro da casta* dos sacerdotes). Porém, existe um golpe do lago, parecido com o golpe dos ghaats de cremação de Varanasi. Nele, um suposto guia credenciado, te dá várias explicações sobre as cerimônias e você participa da cerimônia do lago, alegando que só solicita uma pequena doação no final. Porém, esta doação é feita para o próprio guia e ele pede um valor exorbitante. Fique atento e não caia nessa, as doações são feitas, exclusivamente, nos guichês oficiais.
*apesar de proibida por lei, a cultura do sistema de castas ainda é muito presente na cultura indiana, sobretudo no norte do país.

💡 Um momento engraçado (e constrangedor) foi quando nós estávamos à beira do lago no Brahma Ghaat, no fim do dia, e não sabíamos que, durante o aarti, somente os hindus podem ficar perto da água. No meio do lago tem uma ilhota com um mini templo laranja e um alto falante e esse alto falante começou a falar com a gente. Demoramos alguns segundos para entender de onde vinha o som e que ele estava nos expulsando do ghaat, pois ia começar a cerimônia. Saímos de lá, subimos as escadarias e ficamos observando o aarti do outro lado.

💡 Quando eu estava no Ghau Ghaat, uma família de mais de 15 pessoas pediu para tirar uma selfie comigo e eu recebi um dos abraços mais apertados de toda a viagem. Como nós somos muito diferentes dos indianos, pela forma de se vestir, cor de pele e do cabelo, e poucos saem do país, eles pedem pra tirar fotos o tempo todo com ocidentais. O que me gerou uma bela coleção de lembranças com desconhecidos, porque eu sempre pedia uma no meu celular também.

Visitar templos

Há mais de 500 templos em Pushkar e os mais importantes deles são:

Templo de Brahma: os principais deuses hindus têm milhares de tempos dedicados à eles por toda a Índia, porém, há pouquíssimos dedicados à Brahma, que é o criador do universo. O de Pushkar é o mais importante deles e foi construído no século XIV, mas, segundo a teologia hindu, ele tem mais de dois mil anos. A entrada é gratuita, mas é preciso guardar seus pertences em um armário, que é pago. A dica é deixar suas coisas volumosas no hostel e ir sem bolsa!

Nascer e pôr do sol no Templo Savitri: Savitri é uma das esposas do deus Brahma e seu templo, além de ser um importante centro de peregrinação, é um famoso local para ver o nascer e pôr do sol, já que fica no topo de uma montanha. Para chegar até lá, você pode ir a pé ou pegar um teleférico (Rs.107 – US$1,5 ida e volta).

Pap Mochani (Gayatri) Temple: Gayatri é a outra esposa de Brahma e, assim como Savitri, também tem seu templo em Pushkar. Apesar de ficar em uma colina mais baixa do que o Templo de Savitri, o Pap Mochani é outro lugar bonito de ver o pôr do sol.

Compras nos bazaars de Pushkar

As lojinhas de Pushkar deixam até a pessoa menos consumista do mundo tentada. É tudo muito colorido, alegre, com roupas rajastani, jóias em prata, artigos religiosos, incensos, centenas de produtos feitos de cânhamo e objetos decorativos. Além disso, foram as lojas mais baratas que encontramos na viagem. 

💡 Os mercados mais conhecidos para compras são o Sarafa Bazaar, Kedalganj Bazaar e Bada Bazaar.

💡 Nós encontramos uma lojinha minúscula que vendia roupas rajastani e de fantasias de Bollywood. Foi como um sonho entrar por aquela portinha e nos deparar com um mundo de cores. Além disso, o dono era uma figura e nos recebeu super bem. Ela fica quase em frente ao cinema Hanumaan Gali, na Main Market Road.

Feira de Camelos de Pushkar

Apesar de ser muito conhecida por ser a maior feira de camelos da Índia, a Pushkar Fair também é um colorido festival folclórico que acontece todos os anos, onde acontecem várias apresentações culturais de dança, música e eventos religiosos. Como as datas não são sempre as mesmas, nós não conseguimos nos programar pra ir nesta estada, mas ficamos bastante curiosas!

💡 Normalmente, o festival acontece em novembro e o de 2021 será entre os dias 11 e 19/11.

Onde comer em Pushkar

Mesmo a cidade sendo pequena, há vários restaurantes gostosinhos para provar. Muitos deles são de estrangeiros que acabaram se apaixonando por Pushkar e ficando por lá.

The Laughing Buddha Vegan Cafe Pushkar
Almoçamos uma comida que era um misto de indiana/internacional/vegana. Era bem gostoso. A conta para uma pessoa deu Rs.300 (US$4,2). Eles estão temporariamente fechados na pandemia.

Doctor Family Pizzeria e Doctor Alone Restaurant
Doctor Alone é um indiano muito figura que nos recebeu nos nossos primeiros momentos em Pushkar, quando fomos jantar em um dos seus restaurantes, o Doctor Family Pizza. A pizzaria era bem gostosinha e ficava ao lado do nosso hostel. Já o Doctor Alone Restaurant fica à beira do Lago de Pushkar e é um bom lugar para ver o pôr do sol tomando um lassi. A conta para uma pessoa na pizzaria foi Rs.275 (US$4).

Honey Dew Café & Restaurant
Um salão bem pequenininho que serve um café da manhã delicioso! Ele fica na rua principal de Pushkar, a Main Market Rd, e tudo era feito por uma mãe e um filho. A minha conta foi Rs.270 (US$3,5) e eu pedi um iogurte com frutas (muesli), café e pão de grãos.

Raju Terrace Garden Restaurant
Esse foi nosso almoço de despedida, com uma indian food deliciosa! Foi um dos melhores malai kofta que eu comi na Índia, que é um bolinho frito de batata com molho. Só de lembrar dá fome! A conta deu Rs.275 (US$4) para uma pessoa.

Ganga Laffa & Falafel Restaurant
Acabamos não indo, mas os sanduíches de falafel parecem bem gostosos.

Onde se hospedar em Pushkar

Nossa opção: Moustache Hostel

Ficamos em várias unidades Moustache pela Índia e gostamos muito. Em Pushkar o hostel era ótimo, bonito, bem localizado, no meio do centrinho da cidade. O único ponto fraco é o restaurante.

Mais lugares para se hospedar em Pushkar:

Mochileiro
Madpackers: cama em dormitório a partir de R$24
Hostelavie: cama em dormitório a partir de R$15
The Hosteller: camas em dormitório a partir de R$37

Conforto
Inn Seventh Heaven: quartos duplos a partir de R$98
Jashoda Mystic Haveli: quartos duplos a partir de R$67
Namaste India: tendas a partir de R$135
Doctor Alone: quartos confortáveis a partir de R$26

Luxo
Hotel Brahma Horizon: quartos duplos a partir de R$258
Rawai Luxury Tents Near Brahma Temple: quartos duplos a partir de R$300

Quanto tempo ficar em Pushkar

Nós ficamos duas noites em Pushkar e deu pra aproveitar bem. Como eu falei, acabamos não fazendo muitas programações, porque a gente queria mesmo era descansar, mas acho que no máximo 3, 4 noites é o suficiente para ver tudo. A cidade é pequena, mas é claro que o tempo que cada um acha melhor ficar é relativo, ainda mais se você for para a Feira de Pushkar ou alguma outra data festiva.

Quando ir

Nós fomos a Pushkar no inverno, no final de dezembro e estava um friozinho gostoso de montanha. Durante o verão, dizem que é um calor dos infernos, passando facilmente dos 40º. 

É preciso ficar atento ao período das monções, que ocorre normalmente entre junho e agosto e chove muito. Aliás, essa dica é para toda a Índia.

💡 Outra dica é checar as datas de festivais hindus. Pode ser muito legal estar lá nessas datas para quem quer curtir e observar a cultura indiana, mas pode ser um pesadelo se você não quer encarar uma cidade superlotada!

Como chegar à Pushkar

Trem

Nossa opção de ida foi pegar um trem de Udaipur até Pushkar. Como era uma viagem relativamente rápida (cerca de 4hrs) e no período do dia, pegamos um trem local, na classe sleeper 2 e que custou Rs.316 (US$4,50) para nós duas. A viagem foi tranquila, passamos por muitos vilarejos, plantações, era um caminho bem lindo. O trem só começou a encher a partir da metade do trajeto e ai foi levemente perrengue, com muita gente em pé, outras pessoas tentando se espremer no nosso banco (que era apenas para três passageiros, mas quando vimos, tinha uns quatro ou cinco). E é claro, 90% dos passageiros eram homens e alguns ficavam olhando pra gente sem parar, por sermos as únicas estrangeiras naquela multidão.

A estação de trem mais próxima de Pushkar fica em Ajmer, a 18km. Chegamos à noite e pegamos um tuktuk. O caminho foi levemente assustador e engraçado ao mesmo tempo, já que era uma subida para a montanha, em uma rodovia. O motorista ficou rindo da gente, porque pra ele, aquilo é comum e, pra gente, deu um baita frio na barriga.

Depois de negociar muito, a corrida custou Rs.500 (US$7). No hostel, eles nos aconselham a pagar entre Rs.200-400, mas a gente tentou muito, tivemos uma longa DR com cerca de 10 motoristas juntos, desistimos e aceitamos o valor.

💡 Uma alternativa ao tuktuk é pegar um ônibus, que custa entre Rs.20-40 (menos de US$0,50), mas como chegamos à noite, não conseguimos achar onde era. Peça a dica no seu hotel antes de sua ida!

💡 Nosso trem foi o Udaipur City Jaipur Superfast T Special, mas os recomendados por turistas (e mais caros) são o Shatadbi Express ou Pink City Express.

Ônibus

Há uma estação de ônibus próxima ao centrinho de Pushkar, onde saem ônibus locais. Essa foi nossa opção de viagem de Pushkar à Jaipur. São 146km de distância, cerca de 3h30 e custou Rs.200 (US$3) por pessoa.

Avião

O aeroporto mais próximo é em Jaipur, a 140km. De qualquer forma, você tem que pegar um trem, ônibus ou um transfer até Pushkar.

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